Filme resgata história de capoeirista

Ficção e realidade misturam-se na trama

Por Danielle de Moraes

Em Besouro, o ator Sergio Laurentino interpreta Exu.


Elementos que remetem à cultura africana chamam a minha atenção há muito tempo. Confesso que Besouro, dirigido por Daniel Tikomoroff e com produção de Vicente Amorim, já ganhou vários pontos comigo pela temática abordada. Besouro foi um mestre capoeirista que viveu na Bahia por volta de 1920, período em que, apesar da Lei Áurea ter sido assinada em 1888, os negros ainda trabalhavam de forma desumana nos engenhos de cana. A explicação do nome Besouro é dada logo no início do filme: o inseto tinha tudo para não voar, já que tem o corpo muito pesado, mas voa. É algo que nem a ciência explica.

Apesar do capoeirista, interpretado por Ailton Carmo, ser o elemento central do filme, o Candomblé ganha espaço do começo ao fim da história. Os Orixás aparecem em forma de gente e influenciam as atitudes dos personagens. Exu, muitas vezes demonizado por quem desconhece a religiosidade africana, mas que é bom para quem é bom com ele e ruim para quem é ruim, é colocado como o responsável por muitas atitudes de Besouro, como o incêndio do canavial do senhor de engenho.

A fotografia do filme é maravilhosa. Não era para menos, já que várias cenas foram gravadas no Recôncavo Baiano/ Chapada Diamantina. São imagens belíssimas que agradam até os mais fervorosos e intolerantes protestantes que, além de não aceitar, desrespeitam a fé nos Oguns africanos. (Só lembrando que nem todos os protestantes são intolerantes). O figurino, assinado por Bia Salgado, também é bem pensado. As roupas de época são devidamente usadas no longa metragem.

Capoeira é jogo, luta e dança. Hoje, é muito mais usada como dança ou jogo, mas antigamente foi ela que ajudou muitos de nossos ancestrais a se defender. As cenas em que os negros estão jogando deveriam ser a marca do filme, afinal Besouro foi um dos maiores capoeiristas do Brasil. Entretanto, senti falta de ver mais rodas de capoeira. Besouro voou mais do que lutou/ jogou/ dançou.

Segundo um amigo meu, ele é uma mistura do herói nipônico Jiraya com a ginasta Daiane dos Santos, tamanha a agilidade do baiano. São nesses momentos que as lendas e ficção roubam a cena. De acordo com a lenda, Besouro tem o corpo fechado. Nada, além de uma faca de ticum, madeira nobre para as religiões de matriz africana, consegue entrar em seu corpo.
Os atores escolhidos para interpretar os personagens históricos não são estrelas globais, apesar da Globo Filmes ser uma das produtoras do longa. Porém, isso não diminui o filme. É claro que se estivessem interessados apenas em vender milhões de ingressos, escolheriam carinhas mais conhecidas. Porém, o objetivo é imortalizar Besouro e homenagear a capoeira, proibida por vários anos no Brasil e que, em 2008, foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil.

O filme se perde em alguns momentos. Por exemplo, Mestre Alípio, o responsável por tanto ensinar à Besouro segredos da Capoeira e Candomblé, diz que três pessoas lutando são mais fortes do que apenas uma. O ensinamento do mestre, entretanto, não é seguido. Após a sua morte, Besouro passa a viver nas matas sozinho. Tudo o que faz é pensando no seu povo, em libertá-lo. Incendeia os canaviais, quebra a máquina de moer a cana. Tudo pelo seu povo. Mas faz tudo só. Em muitos momentos, além de da proteção dos Orixás, não recebe outra ajuda. E a união, que, segundo o mestre, daria mais força ao povo? Besouro lutou e brilhou sozinho.

Os berimbaus e tambores são sons marcantes no filme. Além deles, as músicas foram bem escolhidas. A música-tema é de Gilberto Gil, mas confesso que o bairrismo tomou conta de mim quando escutei Nação Zumbi. Todos sabem que a Bahia e Pernambuco possuem culturas muito ricas. Esse é o principal motivo da rixa entre os dois estados. Sair sala de cinema ouvindo uma música pernambucana num filme sobre um baiano fez bem ao ego.

3 comentários:

Jornalismo opinativo disse...

Chapéu: Besouro
Crédito da foto: Divulgação

Jornalismo opinativo disse...

Oxe, esqueci de pôr "chapéu" e "crédito" no meu texto. :D

Ass. Clarissa

Jornalismo opinativo disse...

E esse filme é incrível! Assisti sexta, Dani.

He! :)

Ass. Eu, de novo.