Irmãos Coen surpreendem com comédia inteligente

“Queime depois de ler” traz uma nova proposta para o gênero cinemetográfico



Por Yuri Queiroz

A comédia é o gênero do cinema que se caracteriza pelos extremos. Ou
são amadas– geralmente as mais antigas que cativam os mais aficionados
pela sétima arte – ou são odiadas – e, aí, não faltam exemplos de
besteiróis norte-americanos, estrelados por Jim Carrey, Eddie Murphy e
Cia. Para os conhecedores médios, como eu, os filmes cômicos são
reservados, consciente ou inconscientemente, para domingos ociosos ou
qualquer momento em que não se tenha nada melhor a fazer do que estar
na frente da televisão. Em já que a busca é por “algo melhor”, “Queime
depois de ler” (2008), dirigido pelos irmãos Coen (“Onde os fracos não
têm vez”) e recentemente lançado em DVD, é a prova de que horas
ociosas podem ser muito bem preenchidas.

A primeira vista, pode até ser difícil perceber que se trata de uma
comédia. Não há apelos ao ridículo e as passagens de humor não são tão
explícitas como se pode esperar em uma obra do gênero. Os irmãos Coen
(Joel e Ethan) demonstraram satisfatoriamente como um filme pode ser
engraçado, tendo personagens estúpidos e sem abrir mão de uma estória
a ser contada. A trama começa quando um analista da CIA (John
Malkovich) é demitido, ao chegar a uma teórica reunião de trabalho. A
partir daí, os personagens centrais de Queime depois de ler,
interpretados por um elenco de perfis variados – Brad Pitt, Frances
McDormand, George Clooney, Tilda Swinton – se entrelaçam em situações
nem sempre tão agradáveis, a exemplo de um assassinato em meio a um
encontro de namorados virtuais.

O enredo versa sobre um CD contendo as memórias do recém demitido
Malkovich. Nas mãos dos personagens de Brad Pitt e Frances McDormand,
o CD torna-se um trunfo, por meio do qual os dois tentam auferir
alguma vantagem do seu dono. Traições, metas egoístas, inseguranças e
paranóias conduzem o filme até o final, quando, enfim, percebemos que
se trata de uma comédia genialmente escrita.

Mas, se o filme não traz piadas imediatas nem recorre aos escrachos
contemporâneos de Hollywood, onde está a comédia? O segredo reside na
excelente atuação do elenco selecionado pelos Coen, diretores,
produtores e roteiristas do longa. Os personagens foram pensados de
modo caricato, o que, de certa maneira, auxilia para que as falas e
situações vividas em Queime depois de ler proporcionem boas risadas.
Osbourne Cox, o analista da CIA, interpretado por Malkovich é careca e
usa casacos sobretudo, típicos de agentes de espionagem, além da
característica gravata borboleta. Chad Feldheimer, instrutor de uma
academia de ginástica, vivido por Brad Pitt, revela uma faceta do
ator, que aqueles que viram suas participações em Tróia, Mr. e Mrs.
Smith ou O curioso caso de Benjamin Button, podem desconhecer. Com um
penteado no mínimo estranho e trejeitos que dão direito inclusive a
dancinhas comemorativas, o personagem intriga o espectador a se
questionar: o que é esse cara?

Os extras deixam um pouco a desejar, para quem gosta de detalhes
sobre o elenco, diretores, roteiro, processos de criação, filmagem e
acabamento. São, em síntese, três bônus. O primeiro traz uma breve
explanação dos irmãos Coen sobre o roteiro e proposta do filme, o
segundo traz as visões do elenco sobre os respectivos papéis e o
terceiro mais se afigura a uma homenagem individual a George Clooney.
Todos estes, somados, não duram mais que meia hora. Conclusão? Um bom
filme, independente de preferências de gêneros, no melhor estilo
sátira ácida.

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