Metalinguagem Cênica

Tucap


Depois de um hiato de 12 anos, o Tucap volta aos palcos com a peça “Vidas Passadas e Engomadas”

Por Leandro Gantois




O Grupo de Teatro da Universidade Católica de Pernambuco (Tucap) foi criado em 1967 e fez montagens memoráveis de importantes obras da dramaturgia brasileira como “Eles não usam Black-tie” de Gianfrancesco Guarnieri e “Toda Nudez será castigada” de Nelson Rodrigues. Após três décadas e inúmeros prêmios, as atividades do Tucap foram encerradas em 1997 com “Dois Perdidos Numa Noite Suja” de Plínio Marcos. 12 anos depois, o grupo universitário volta aos palcos com a peça “Vidas Passadas e Engomadas”, que teve estreia na ultima quinta-feira no Teatro Barreto Junior, no Pina.

A trama explora bastante a metalinguagem ao mostrar os bastidores de uma peça de teatro. Na história, uma atriz coadjuvante é misteriosamente assassinada durante a montagem de uma tragédia nordestina. A partir disso, todos os personagens desfilam seus defeitos e toda a falsidade em busca da autopromoção. Com bastante ironia e sarcasmo, o jovem dramaturgo Leo Tabosa explora até certos estereótipos do universo teatral, mas sem cair em um preconceito. Assim, temos a atriz protagonista sem talento, o diretor arrogante, o ator que não sai do armário e até uma contra-regra lésbica com o apelido de “Paulão”.

Já nos elementos cênicos, a direção de Hugo Ara expõe bem, por exemplo, a instabilidade do diretor-personagem ao querer mudar a todo instante a iluminação, o gelo seco, o figurino e os cenários. Ou seja, por estar ambientada em uma própria peça, toda a técnica teatral é usada como forma de explicar ao espectador como funcionam os bastidores. Embora, nesta obra específica, são os diálogos, na verdade, que fazem o grande diferencial. Com um estilo verborrágico, a trama jamais perde o ritmo conseguindo prender a atenção até um inesperado e divertido clímax.

Aliás, pelo estilo e pela própria trama, seria quase impossível não fazer um paralelo com o filme “Tiros na Broadway”, de Woody Allen. Não posso afirmar que Leo Tabosa teve influências da película, mas ambos tratam quase do mesmo assunto. Na obra de Woody Allen, um dramaturgo é obrigado a ceder a exigências de um produtor gangster ao mesmo tempo em que enfrenta uma atriz com crise de estrelismo, uma ex-namorada sem talento e vários coadjuvante problemáticos. E assim como Woody Allen, Leo Tabosa cria uma comédia inteligente e ácida.

“Vidas Passadas e Engomadas” marca assim, o retorno em grande estilo do Tucap, não apenas com uma peça de teatro universitário, mas uma obra adulta, divertida e crítica. Esperamos assim, que a Universidade Católica de Pernambuco continue a incentivar jovens artistas a escreverem boas obras e que o Tucap possa retomar a fase áurea do passado. Afinal de contas, a cultura não é supérflua, como o Estado costuma afirmar através da falta de investimento. Ou seja, nada melhor do que um ambiente acadêmico para revelar novos talentos, ainda mais em uma área normalmente esquecida, o teatro. E que “Vidas Passadas e Engomadas” seja a primeira de muitas.

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