(Des)construção


A ornamentação na ruína, o escuro no claro, o silêncio na voz, o imóvel na ação

Por Clarissa Dutra

A primeira vez que assisti Superbarroco, foi no começo do ano, no Cine PE. Me agradou em cheio, principalmente, por ser um achado dentro da seleção morna dos filmes que vinha assistindo no festival. Neste mesmo evento, o filme foi premiado como “melhor curta” em película. Já tinha sido, anteriormente, premiado no respeitado Festival de Brasília e arrancado elogiadas críticas do público cinéfilo.

Dirigido pela pernambucana Renata Pinheiro e rodado em 35mm, o curta-metragem é um convite ao delírio visual. São 17 minutos de imagens que se sobrepõem umas as outras, criando uma representação da fantasia, da ausência de sentido, e da liberdade. O espectador escolhe o que quer ver e pra onde quer ser levado.

Há um mês, tive a oportunidade de assisti-lo novamente, agora no II Janela Internacional de Cinema e tive a mesma sensação de desconstrução, mesmo esperando encontrar um Superbarroco ameno, gasto na minha memória. Achei-o, no entanto, dentro da programação Dimensões Paralelas – “onde o espectador é levado a um estado de suspensão constante, dois ou três graus acima da realidade” - e voltei a entender/sentir aonde ele, o filme, iria me levar. Aonde o cenário musical por detrás das imagens e as imagens por detrás das sensações, iam desvendar inquietações.

A figura principal do curta – Everaldo Pontes, tenta nos mostrar não apenas o que se passa pela sua cabeça ou os seus sentimentos, é mais além, são imagens que registram e explicam, para o espectador, fundindo o que é memória e sentido, e toda a desconstrução entre esses elementos. O trabalho de fotografia (do Pedro Urano) é lindíssimo. Cria-se um impacto através de suas projeções poéticas, produzindo efeitos que convidam a tentativa de deixar o espectador em dúvida sobre o que é projeção e o que é real.

Renata Pinheiro conseguiu levá-lo a prestigiadíssima Quinzena dos Realizadores, em Cannes – um dos mais conceituados e badalados eventos do cinema mundial. Sua experiência como diretora de arte (Baixio das Bestas, A Festa da Menina Morta), deve ter embasbacado os realizadores (e espectadores) com a produção impecável do filme. Para o setor audiovisual de Pernambuco, o curta ter sido exibido em Cannes, prova o reconhecimento de quem faz o diferencial.

Superbarroco não exige grandes explicações. A linguagem visual proposta por Pinheiro, com sutileza e sem ações que precisem ditar o que sentir, traz uma realidade que se mistura a imaginação e a outras realidades, mas sem o compromisso com o factível. Brinca com elementos que se encontram pra tornar um só (ou vários - fragmentados na nossa própria escolha). É um convite aos delírios e delícias visuais, onde a alegria e a tristeza, a ingenuidade, luzes e sombras, a ausência e a presença - todas esses sentimentos, são conciliados pela arte cinematográfica.




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Superbarroco Renata Pinheiro
Brasil(PE), 2008
17' - Cor
35mm

Roteiro: Sergio Oliveira, Renata Pinheiro
Fotografia: Pedro Urano
Direção de arte: Dani Vilela, Karen Araújo
Montagem: João Maria Araújo
Direção de produção: Dedete Parente
Produção executiva: Sergio Oliveira
Companhia produtora: Aroma Filmes
Elenco: Everaldo Pontes
Som direto: Danilo Carvalho

* Melhor Curta-Metragem, Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Brasília, 2009 / Melhor filme de curta metragem, Melhor Ator, Prêmio Aquisição Programa Zoom-TV Cultura, Cine-PE, Recife, 2009 / Melhor Curta Nacional, II Janela Internaciona de Cinema do Recife, 2009.

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