Moda Passageira?

Com quase três décadas de carreira, o Depeche Mode não comprova a tradução literal do nome


Por Leandro Gantois



"Sounds Of The Universe": Depeche Mode renovado



Alguns pesquisadores dizem que a história é linear, já ditados populares costumam afirmar que a história sempre se repete. E por alguma razão não muito clara, a década de 80 resolveu retornar em pleno século XXI. Ou seja, se na década de 90, ninguém agüentava mais escutar sintetizadores, nos anos 2000, o instrumento virou vintage. E o que não faltam são bandas que com muito orgulho dizem sofrer influências de Joy Division, New Order, The Smiths, Pet Shop Boys e até do A-Ha (?). Até cantoras pop como Lady GaGa parecem copiar a cafonice estética de Madonna e Cindy Lauper. Mas se reviver a tão exagerada era perdida pode parecer cool para artistas atuais, o mesmo não se pode falar de bandas da época. E a inglesa Depeche Mode, formada em 1981, parece querer ir contra a maré e se afirmar como mais do que uma banda oitentista.

Assim, para sobreviver ao less is more da década de 90, o Depeche Mode teve que se reinventar, mas sem perder a identidade. E depois do clássico álbum “Violator” (1990), a banda passou a ter mais dificuldades para emplacar sucessos na parada, além de ter que lutar contra os clichês do mundo musical: brigas, separações e drogas. E para os críticos que pensavam que seria o fim do grupo, o Depeche Mode foi além e trouxe a partir de “Exciter” (2001) uma nova sonoridade até chegar à plena maturidade artística com um dos melhores trabalhos já feitos pelo Depeche, no álbum “Sounds Of The Universe”, uma obra que desconstrói o passado da banda, mas sem esquecê-lo.

A primeira impressão de “Sounds Of The Universe” é de puro estranhamento: é fácil perceber a voz melódica do vocalista Martin L Gore, mas as músicas possuem sintetizadores e guitarras distorcidos. Ou seja, é necessário digerir o álbum para poder apreciá-lo, o que já é uma grande quebra na tradição de hits grudentos (e geniais) como “Enjoy The Silence” e “Strangelove”. Até mesmo os singles “Wrong” e “Peace” vão além do refrão repetitivo, o que não impede que as letras continuem com um pessimismo exagerado e a estranheza da melancolia alegre. O mesmo serve para a faixa de abertura do CD, a épica “In Chains”, com sete minutos de sons aleatórios.

O álbum, apesar de mostrar uma nova face do Depeche Mode, possui um excelente conjunto, o que já existia nos trabalhos anteriores. Em “Sounds Of The Universe” não tem aquelas canções feitas apenas para completar o CD. Todas as faixas possuem sentido, desde a instrumental “Spacewalker”, de apenas um minuto e meio até a espiritual “Little Soul”, passando pela doce “Jezebel”. A música de encerramento, “Corrupt”, parece dialogar diretamente com “In Chains”, repetindo as mesmas distorções musicais e provando a ótima produção da obra.

“Sounds Of The Universe” veio mostrar para o público a para crítica que o Depeche Mode é muito mais que uma banda símbolo dos anos 80. O grupo mudou, amadureceu e não perdeu a identidade. O Martin L Gore pode até não usar mais roupas de couro e moicano oxigenado, mas a tristeza das composições ainda está presente. Até porque se bandas dos anos 2000 sofrem influências da década de 80 são elogiadas, mas se uma banda como o Depeche continua igual, será acusada de falta de originalidade. Assim sendo, o Depeche Mode prova de uma vez, se é que alguém tinha dúvidas, de que o grupo não é uma moda passageira, como o próprio nome sugere.


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