Terror Italiano
Apesar de cultuado por cinéfilos, o diretor Dario Argento parece ter perdido a marca autoral
Por Leandro Gantois
Adrien Brody em "Giallo": terror sem identidade
Na década de 70, o cinema italiano foi dominado por um subgênero do terror, o giallo (amarelo em português), que tinha como característica a violência gráfica, influenciada por publicações de detetive, impressas em capa amarela. O principal realizador dessa safra de filmes foi Dario Argento, que logo passou a ser considerado por muitos como um gênio, ganhando apelidos como “Hitchcock Gore”. O cineasta sempre foi conhecido pelo exagero, pelo banho de sangue e pelo uso de cores fortes e saturadas, quase kitsch. Seria algo como imaginar Almodóvar dirigindo um filme de terror. Argento nunca teve medo de transgredir, de provocar, como misturar em uma trilha sonora elementos musicais diferentes como ópera, rock progressivo e heavy metal. Entretanto, a partir dos anos 90, o cineasta parece ter caído em um limbo artístico com produções de baixo orçamento, que beiravam o trash.
Com “Giallo – Reféns do Medo” (existe algo mais brega do que subtítulo?), Argento parecia que presentearia o público com uma obra típica do movimento que o consagrou. Errado! O diretor conduz um filme sem identidade que reaproveita clichês surrados. Esqueçam absolutamente todas as marcas autorais do cineasta italiano, “Giallo” não tem nenhuma semelhança com as obras-primas de terror realizadas nos anos 70, como “O Pássaro das Plumas de Cristal”, “Suspiria” e “Prelúdio Para Matar”. Aqui, Argento opta por reciclar suspenses hollywoodianos como “O Silêncio dos Inocentes”, “Seven” e “Jogos Mortais”. Ou seja, nada de cores berrantes, assassinatos surreais e muito menos o cacoete favorito de Argento, a câmera subjetiva, mostrando a visão do serial killer, que passa mais tensão e realidade ao espectador. E o pior de tudo é enganar o cinéfilo com um título que parece que irá oferecer todas as características do movimento, mas no final das contas, nos é apresentado uma obra covarde, sem nenhum traço da originalidade cinematográfica do diretor. E não seria exagero dizer que um artista sem sua marca autoral seria o mesmo que um cidadão sem RG ou CPF. E “Giallo” é tudo isso: um filme sem alma, sem uma assinatura. A trama gira em torno de um assassino que persegue e mata modelos durante a semana da moda em Milão.
Infelizmente, a identidade do psicopata é revelada logo no inicio, ou seja, nada de clímax no final, novamente indo de encontro às receitas de um bom giallo. E o pior é que o roteiro parece um queijo suíço, de tantos furos. Erros que poderiam ser evitados com uma simples revisada, mudanças na história que não comprometeriam a narrativa. O mesmo acontece com a fotografia, completamente apática, lembrando produções feitas para a TV, lançadas diretamente em vídeo e que serão exibidas no futuro em Super Cine. No elenco, Adrien Brody, vencedor do Oscar, está no piloto automático e nunca se sabe quando ele falará em inglês ou italiano. O mesmo serve para Emmanuelle Seigner, completamente inexpressiva em uma personagem histérica.
Giallo – Reféns do Medo” poderia representar um retorno em grande estilo do diretor Dario Argento, que caiu em um ostracismo artístico desde o fracasso comercial de “Terror na Ópera"(1987). 22 anos depois, o cineasta parece ainda não ter encontrado a inspiração. Entretanto, não podemos negar que Argento é um dos melhores diretores do gênero, realizador de inúmeras obras-primas, que influenciaram pessoas como Brian De Palma, Stanley Kubrick e Quentin Tarantino. Alguns críticos dizem que é a falta de produtores e patrocínio que fizeram a obra de Argento entrar em declínio. Pode até ser, mas é realmente uma pena ver um grande mestre da sétima arte cair em descrédito desta maneira. Felizmente, apesar de tropeços nas duas últimas décadas, Argento continua sendo bastante cultuado em círculos cinéfilos e com muito merecimento, ou seja, o melhor a se fazer é esquecer “Giallo – Reféns do Medo” e procurar os filmes dirigidos por ele nos anos 70 e 80 e entender porque o cineasta é tão respeitado.
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