Falta glamour e identidade nas composições da Mulher Melancia
Por Danielle de Moraes
Esperava um texto sobre a nova banda de reggae do momento ou alguma referência musical um pouco mais cult? Gostaria de ler sobre algum artista que anda preservando a nossa pernambucanidade e inserindo ritmos locais em suas composições? Pois é, para a sua surpresa, não é nada disso a minha fonte de inspiração desta semana.
Tédio. Essa é a palavra que melhor define os nossos domingos. Ainda não sei se sentimos isso porque é um dia demasiadamente tranquilo ou se o tornaram melancólico porque é o que antecede o pior dia da semana: a segunda-feira. É na segunda que retornamos à rotina, voltamos a olhar insistentemente para o relógio e cronometrar os nossos passos, nos submetemos às ordens dos chefes e às vezes não temos condições de dar a atenção que gostaríamos nem mesmo à quem divide o mesmo teto com a gente. A programação da televisão também acompanha o infeliz domingo. Chega a ser uma tortura ter que decidir entre assistir ao Gugu, Eliana ou Faustão. E foi num dia desses de domingo que descobri que a saga das mulheres fruta estava indo além da dança.
Mulher Melancia, Jaca, Melão, Moranguinho. Elas tornara-se celebridades pela desenvoltura na hora de dançar o pancadão carioca. Os bailes funk não seriam os mesmos sem as performances das mulheres fruta. Sem as bundas e peitos delas, provavelmente o pancadão não atraísse tantos marmanjos. Não foi surpresa quando descobri que Andressa Soares, a Mulher Melancia, havia faturado alguns reais após aceitar ao convite para posar nua na Playboy. Ela – ou a sua bunda – ficou conhecida por dançar o Créu até a velocidade 5. O motivo da minha surpresa foi o fato da Melancia não se contentar em ser apenas mais uma dançarina gostosinha. Ela lançou-se como muito mais do que isso: a cantora gostosinha. Não satisfeita com a agilidade da velocidade 5 do Créu, apresentou o hit Velocidade 6. Mas a composição que mais chamou a minha atenção foi a música “Solteira sim, sozinha nunca”. O ápice da independência da mulher, para Melancia, é chegar ao baile, beijar quem quiser e rebolar, mas rebolar muito, até não poder mais. Como ela diz na letra, “é melhor tu ser solteira do que uma chifruda”.
Sabemos que após tantas decepções algumas mulheres optam por passar um tempo sozinhas, sem namorado. Cansam só em pensar em ter que dar satisfação novamente à alguém, não querem se acostumar e desacostumar com a presença de outro homem em suas vidas, não têm paciência para dividir suas intimidades, planos e sonhos com mais um cara que não sabe o que quer. Esse momento de redescoberta pelo qual as mulheres – e os homens – passam após o fim de um relacionamento é saudável. É natural querer um tempo para estar novamente bem consigo. Posteriormente, quem sabe, deixe se envolver por uma outra figura.
Farras durante a madrugada, cervejas e drinks com outros amigos, saídas mais constantes e um pouco menos de controle nessas ocasiões são normais e necessárias. Imagine o tempo que um casal passa cultivando – ou não – a fidelidade. Quantas vezes deixa de ir para a festa louca daquela amiga solteira que conhece vários caras e que o seu namorado não vai muito com a cara? Quanto tempo deixou de visitar o seu amigo que tanto te faz bem porque os poucos momentos que tinha livre reservava para sustentar o seu relacionamento? Renúncias. Elas precisam existir quando se gosta de verdade. Mas quando as diferenças, indiferenças ou incompreensão tornam-se mais fortes do que o amor que antes havia – ou deveria haver -, é hora de resgatar essas coisas que você acaba deixando para lá – às vezes até inconscientemente.
O problema de “Solteira sim, sozinha nunca” não está no fato da Mulher Melancia cantar este momento, maravilhoso, por sinal. A forma de cantar isso é que entristece quem analisa o melodia com um pouco mais de profundidade. A forma de brindar a solteirice é rebolando a bunda e dando um chute da bunda dos homens que querem alguma coisa mais séria?
Temos realmente que escolher com quem queremos nos envolver, mas será que temos que mudar quando enjoar de alguém? Enjoar de quê? Dos braços musculosos, barriga tanquinho ou pernas torneadas? Acho que a infelicidade da Mulher Melancia está aí. Andou se envolvendo muito superficialmente, da forma mais fútil que possa existir. E se ser solteira é uma meta, Melancia, desse jeito, com todos esses valores que anda pregando, você vai sempre alcançá-la. Vai beijar milhões, rebolar até não aguentar mais. Agora, se vai conseguir amar, já não tenho certeza.
A voz da Mulher Melancia também não é muito agradável. É, digamos, até um pouco irritante. Ela também não carrega o glamour que deveria acompanhar uma poderosa funkeira. Umas aulinhas com a Gaiola das Popozudas até que cairiam bem. As turbinadas da banda estão acostumadas em elevar a auto-estima das funkeiras com as músicas “Fiel é o caralho”, “Otário pra bancar” e “Late que eu tou passando”. Inclusive, também não as recomendo para as mais românticas, mas ajudam a animar uma festinha.
O som do batidão que está por trás da letra medíocre de “Solteira sim, sozinha nunca” ainda ajuda a situá-la no universo dos funkeiros, já que preserva a sonoridade do estilo musical. Era preciso de algo, além das saias curtíssimas e do corpo malhado da popozuda, para situar as pessoas e convencê-las de que a Garota Melancia havia transformado-se na promessa do funk.
Andressa Soares, a Mulher Melancia, ficou conhecida no universo funk com as performances do Créu
Um comentário:
Chapéu: Funk
Crédito da foto: Divulgação
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